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Cafeína

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“A ficção para ser purificadora precisa ser atroz. O personagem é vil, para que não sejamos. Ele realiza a miséria inconfessa de cada um de nós.(....). E no teatro, que é mais plástico, direto, e de um impacto tão mais puro, esse fenômeno de transferência torna-se mais válido. Para salvar a platéia é preciso encher o palco de assassinos, adúlteros, de insanos e, em suma de uma salada de monstros. São os nossos monstros, dos quais eventualmente nos libertamos, para depois recriá-los.” 

 Nelson Rodrigues - dramaturgo



Café Nação Teatro

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Para um artigo do jornal A Nação fui entrevistado pela jornalista Maguy Gonçalves a propósito do livro "Nação Teatro - História do Teatro em Cabo Verde". Aqui ficam, de forma integral, as perguntas e respostas que serviram de base ao referido artigo.


- Quanto é que resolveste escrever um livro sobre a história do teatro? O que o motivou a isso?

O teatro é uma arte que vive do momento vivido, ou seja, só existe, enquanto forma de expressão artística, nos instantes em que é colocada frente a frente com um público. Depois o que fica são os registos e as memórias. Se não cuidarmos de fixar essas provas testemunhais, o acontecimento cénico apaga-se com o passar do tempo. Daí a importância de arquivar e registar tudo. Ora, eu sempre tive essa preocupação, não só em relação ao meu trabalho enquanto encenador e professor de teatro no IC - Centro Cultural Português, mas também enquanto público. A dada altura comecei a constatar que já tinha material que justificava um arranque para uma investigação mais profunda referente à história do teatro em Cabo Verde. No início dos anos 2000, meti mãos à obra, organizando o material que tinha e recolhendo muito outro, nomeadamente com a realização de inúmeras entrevistas de pessoas que estiveram directamente envolvidas no movimento teatral cabo-verdiano, algumas delas já falecidas.

- Foi muito difícil reunir documentos e informações sobre esse aspecto? Porquê?

Foi e não foi. Por um lado foi porque a informação era, na época, muito escassa. Por exemplo, fiz uma pesquisa profunda em toda a imprensa escrita dos primeiros anos da independência e entrevistei muitos intervenientes e testemunhas do teatro de outras épocas. Li muitos documentos históricos procurando entender um pouco de como e onde se fazia teatro nos tempos antigos. Acabei fazendo algumas descobertas interessantes que estão no livro. Mas por outro lado, foi muito prazeiroso, porque o objecto de investigação, o teatro, é parte importante da minha vida e, como se sabe, quem corre por gosto não cansa.

- Quanto tempo levou a preparar este livro?

Cerca de dez anos de investigação e dois de escrita e revisão.

- Contou com a colaboração de quem?

De todos os que aceitaram partilhar informações, que foram preciosas. Destaco ainda o papel da Dra. Ana Cordeiro, na correcção final da obra, da Luisa Queirós que ilustrou a capa e da Dra. Zelinda Cohen, na altura responsável pelas edições da Biblioteca Nacional, que acreditou neste projecto. Aliás, o livro foi o primeiro de uma nova linha editorial e gráfica do IBNL e tenho algum orgulho nisso.

- Porquê o título "Nação Teatro - História do Teatro em Cabo Verde"?

Porque a primeira expressão é uma metáfora da segunda. Cabo Verde é, sempre foi, uma Nação profundamente apaixonada pela arte cénica, e eu quis que esse aspecto fundamental do povo cabo-verdiano estivesse patente no título da obra.

- De onde conseguiu reunir todas as informações reunidas neste livro?

Testemunhos, directos e indirectos, imprensa escrita, documentos oficiais e materiais referentes a peças de teatro como programas, bilhetes, cartazes e fotografias.

- Algumas personagens criticam este livro a dizer que não reúne ou não versa, da melhor forma, a história do teatro em Cabo Verde. Qual a tua posição?

Não sei quem são essas pessoas nem nunca li essas críticas, possivelmente porque as primeiras nunca deram a cara e as segundas nunca foram publicadas. Por alguma razão continuamos sem ter uma tradição de crítica artística em Cabo Verde. Mas é normal que um estudo desta natureza nunca esteja completo. A História vai-se construindo, nunca é um produto completo. Lembro-me bem do que disse o historiador António Correia e Silva na apresentação, ao referir estarmos "ante um estudo de inegável valor científico, dotado de rigor metodológico e epistemológico." Aquele que é por todos reconhecido pela sua competência na investigação histórica, afirmou também que "quanto ao compulsar de informações o livro em análise só tem paralelo no monumental Os Bastidores de José Vicente Lopes" o que me orgulhou especialmente porque sou um admirador confesso da obra do JVL. Entretanto foram-me chegando em mãos outras fontes e informações preciosas que poderão enriquecer, e muito, uma futura nova edição. 

- É necessário que se estude melhor o teatro em Cabo Verde, mesmo que por diversas vezes seja colocado em outros postos em relação às artes em Cabo Verde, ganhando expressão maior no Março, mês de Teatro ou no Mindelact?

Mais uma vez sublinho: sendo o teatro uma arte que só tem existência efectiva no acto da sua concretização enquanto espectáculo cénico, é fundamental a preservação da sua memória por todos os meios possíveis. Quanto maior e mais variada for a informação a respeito, melhor.

- Falando nestas duas datas marcantes para o teatro em Cabo Verde, este tornou-se mais expressivo no momento em que surgiram estas duas datas. Já é necessário que as autoridades e os cidadãos comuns tenham mais em conta, o teatro em Cabo Verde e a sua importância?

Eu penso que isso já acontece e esta entrevista é apenas mais uma prova disso. O teatro em Cabo Verde conquistou o seu espaço e duvido muito que alguém o venha tirar de onde ele está, ou seja, num patamar bem razoável do ponto de vista de adesão e criação. Sabendo isso, é natural que se defenda um maior investimento das autoridades e do Mecenato para esta forma de expressão artística. Garcia Lorca escreveu que "um povo que não ajuda e não fomenta o seu teatro, se não está morto, está moribundo.” Eu acredito cada vez mais nisto.

- Neste momento estás a pensar em mais alguma obra sobre o teatro, ou uma reescrição da história do teatro tendo em conta os 8 anos que passaram em cima da apresentação "Nação Teatro - História do Teatro em Cabo Verde"?

Gostaria de fazer uma re-edição aumentada do que já existe. Tenho já muito material acumulado que poderia ser uma mais valia de uma obra que por si já tem muita informação reunida nas suas mais de 550 páginas. Mas neste momento estou concentrado num outro estudo, de investigação artística e sociológica, que é tentar entender a identidade do teatro cabo-verdiano, nas suas diversas vertentes. 

Mindelo, 23 de Junho de 2012



Legenda Cafeana

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Que legenda para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café 





Dia do B

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Peço licença aos frequentadores desse espaço maravilhoso, pois é dia do gerente.
João Branco a pessoa mais simples, trabalhadora, honesta, família, amiga que conheço ( e acho que partilhamos todos da mesma opinião). Em sua homenagem vamos todos tomar um café.

Parabéns João da sua também agora J.B

Grande abraço a todos por me deixar invadir esse espaço!

Café Final

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Meus amigos, até breve. Foi bom enquanto durou. Sigo para outros projectos. O Café Margoso começou como blogue e transformou-se numa imagem de marca. Graças a vocês todos. Um dia há-de haver um café de verdade com este nome (não é, Paulino?). 

Aquele abraço de sempre e um bem-hajam!

João Branco

Perguntas Cafeanas

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Bzot deskulpam, ma linga kabuverdiana inda ka e ofisial, mod ke? A seriu, mod ke? Bzot espera: ja el é? Não? Mod ke, porra? 

À melhor promessa, ofereço um café



SMS Cafeano

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"A maior religião do mundo é tratar BEM as pessoas" 

Paulino Vieira.- mestre da música cabo-verdiana

(caricatura do talentoso Sai Rodrigues)

Cafeína

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"No que respeita a representação simbólica, falta aos nossos decisores culturais a tal da base formal: nem todos os diretores de serviço do Ministério da Cultura cresceram rodeados de arte e literatura; nem todos os vereadores municipais entendem a diferença abissal entre cultura e folclore; e o apetite dos governantes pelo patrocínio do folclore ao invés da cultura parece insaciável."

Rosário da Luz (ler artigo completo, aqui)

Pintura de Kiki Lima



Projecto 47 Desfoco

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Denominado Projecto 47, este é  um passatempo fotográfico inspirado em outro projectos semelhantes existentes noutras paragens (Project 52 ou o Project365, por exemplo). 

O passatempo consiste na colocação online em álbuns próprios e por temas designados para cada semana, de fotografias feitas pelos participantes. No final de 2014, as fotografias mais votadas em cada semana farão parte de uma mostra a ser apresentada na "Noite Branca" deste ano, na Praia e, em estudo, a organização de uma exposição também na cidade do Mindelo.

Semana 07: tema, DESFOCO.

Para saber mais sobre as regras, ver aqui


Legenda Cafeana

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À melhor legenda, ofereço um café 

SMS Cafeano

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"Quem vive da (na) arte, nessa missão tão nobre e fundamental para o espirito humano, não pode sustentar o seu fazer no ódio e na frustração. Esse é o caminho, assim penso, para a liberdade, sem a qual o que construimos de nada vale, a ninguém importa."

Essa fui eu que escrevi, depois de verificar que estava a dar importância a mais ao que importância nenhuma tinha.

Fotografia do meu querido amigo Pedro Moita

Declaração Cafeana

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Como foi público, participei, em representação do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, em vários encontros organizados pela nova direcção da Associação Mindelact, para preparação do Março - Mês do Teatro. Continua a espantar-me a quantidade de projectos teatrais existentes na cidade do Mindelo. É verdadeiramente impressionante a dinâmica conseguida e a forma como a arte cénica é hoje uma arte de primeira necessidade. 

Desde o teatro nas escolas, com grupos organizados ou apresentação de dramatizações, grupo de teatro na Cadeia Civil, oficinas de teatro para crianças, jovens explorando a magnífica história de D. Quixote, projectos individuais de elevado risco, companhias já consagradas, recomeços inesperados, gente nova, menos nova, homens, mulheres e crianças, todos unidos neste amor incondicional pelo teatro, cada um apresentando as suas propostas, estreias, muitas estreias, espectáculos na rua, em locais inusitados e nunca antes experimentados, a possibilidade de utilização do auditório público sem pagar aluguer, muitos ensaios, trabalho, suor.

Esta é a melhor forma de promover o teatro. Fazendo. Não é por acaso que quando o Março - Mês do Teatro foi criado, há 14 anos atrás, o lema proposto foi "mais teatro para um melhor teatro". E o programa deste ano, que reúne um leque impressionante de espectáculos já é uma vitória, porque corresponde a uma promoção ao teatro de grande tamanho e alcance. Sabem de uma coisa? Vejo o panorama do teatro actual no Mindelo e sorrio, orgulhoso. Eu contribuí para isto!

Nem todas as peças serão do agrado de todos. Nem todos os espectáculos provocarão ruidosos aplausos e entusiásticas criticas. Nada mais normal. Mas esta energia contagiante, apesar de Carnaval, apesar da crise, apesar da inoperância dos responsáveis, apesar das dificuldades, apesar da falta de locais para ensaio, apesar das injustiças, apesar da falta de meios financeiros, esta força colectiva do teatro em Mindelo, tornou-se algo indestrutível. Este mês de Março que vem aí, é a maior prova disso.

Viva o teatro!

Café no Novo Eden Park

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segunda versão do projecto, ainda sem o prédio mais alto por trás (ver última imagem)


aspecto geral do auditório


galerias inferiores, que servirão para espaços de exposições artísticas


Acompanhei o processo, graças à generosidade e confiança que me foi depositada por Carlos Hamelberg, arquitecto do projecto de recuperação do Éden Park, com muito entusiasmo. Neste momento, não estou assim tão satisfeito. Melhor, sinto-me dividido. Procuro entender as razões. Mas tenho dúvidas - muitas dúvidas - relativamente ao resultado final do mesmo.

A componente relativa ao auditório propriamente dito, se for feita tal como se encontra projectada, fornecerá à cidade um equipamento cultural de elevada qualidade. Conforto, preparado para ter uma excelente acústica, tecnicamente pronto para receber qualquer tipo de espectáculos, incluindo um cinema, com o novo Éden Park a cidade do Mindelo passará a ter uma sala que dará resposta imediata às principais necessidades dos artistas, produtores e público vasto amante das artes em geral.

A manutenção da fachada original, assim como do nome do espaço cultural, são duas boas notícias, que demonstram respeito pelo passado e pela história da mais importante salta de espectáculos e cinema da história de Cabo Verde. Esse é um bom princípio e, ao que parece, ambos serão mantidos.

Mas tudo tem um preço. E como se pode verificar na última imagem, esse preço é que por detrás do equipamento cultural nascerá um complexo de apartamentos ou hotel, cuja volumetria me assusta e tenho algumas dúvidas se visualmente favorece a própria Praça Nova. 

A sensação que dá, principalmente com o prédio mais traseiro, é que teremos na outra extremidade da praça, um segundo Mindel Hotel (a coincidência da cor ser a mesma pode não ser apenas uma coincidência), muito mais alto que o Hotel Porto Grande mesmo ali ao lado.

Se esse for o preço económico a pagar, para viabilizar financeiramente um projecto que poderá dotar a cidade do Mindelo de um moderno e funcional equipamento cultural, cabe-me perguntar-vos: é esse um preço demasiado elevado?

As minhas dúvidas mantêm-se e foram transmitidas pessoalmente ao arquitecto, a quem, mais uma vez, agradeço a confiança deposita em mim para acompanhar, de perto, a elaboração e o nascimento do "novo"Éden Park.

A hora é de debate.


a última versão do projecto inserido na Praça Nova


SMS Cafeano

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Parem de chamar palhaços aos senhores deputados, uma falta de respeito inaceitável, não se admite uma coisa dessas! Eu, se fosse palhaço, processava-vos a todos.

Na foto, o meu grande e querido amigo palhaço Enano


Café Fotográfico (Dançando...)

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Efeito produzido pelo fotógrafo francês Ludovic Florent, que retratou bailarinos dançando, na série Poussière d’étoiles (“Pó de Estrela”), com um detalhe aumentando a carga dramática da coreografia: a areia envolta em corpos.

Belíssimo!


Quotidiamo nasceu aqui

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Confesso, torna-se até um pouco insuportável: a cada produção cénica, a cada nova aventura, não consigo fazer tarefas outras, falar de novos assuntos, meu foco acaba, invariavelmente, nos mil e um pormenores de que nos devemos ocupar quando estamos em processo de criação. Como um pai babado ou mãe galinha, no blogue pessoal, nas redes sociais, só se fala dele (do “filho”), sobre ele, quase que obrigando os amigos a olharem para ele (para o “filho”). Cada peça de teatro nova é, pois, como um filho. E já lá vão cinquenta. 

Quando a temporada acaba, há sempre um pedaço de nós que morre. Fica ali, impregnada nas tábuas. Nos figurinos, nos pedaços de cenografia, nas fotografias que se tiraram, nas notícias de jornal que foram publicadas e, sobretudo, nas nossas memórias. De quem viu. De quem transmitiu. Se vestiu. No caso dos atores, nos corpos. Que estes também tem memória, como se sabe. E fica um vazio, vamos falar do quê agora? Para quem? Com quem?

Até que aparece um novo projeto. E voltamos ao nosso ciclo vicioso de um viciado de teatro, algo que já confessei ser, nestas crónicas mensais. E, portanto, eu vou dizer algo que já disse, provavelmente das 49 vezes em que produções cênicas viram a luz e nasceram na (e para) a cena. Esta sim, é especial. Nunca houve como esta! Acreditem, tanta coisa nova, desafios tremendos, generosidades encontradas, talento múltiplo, energias cruzadas, e desta vez – aqui sim, posso gritar alto e bom som, - inédito! Oito mãos na escrita, na construção de uma dramaturgia (nova?) multicultural e multinacional. 

Falo-vos do espetáculo que iremos estrear aqui na cidade do Mindelo, no próximo dia 20 de Março. Falo-vos de “Quotidiano, esta não é uma história de amor”, um texto escrito a oito mãos (nestes tempos modernos, as mãos são sempre em dobro, já que se digitaliza e não mais se “manuscreve”), em quatro países e três continentes. 

Sinceramente, não sei onde ou quando me nasceu a ideia. Desafiei o escritor Rui Zink, de Portugal, a iniciar o processo. Depois, o dramaturgo José Mena Abrantes, de Angola, a dar seguimento. De Cabo Verde, convidei Abraão Vicente, para avançar com a terceira parte e, finalmente, desafiei o Ivam Cabral, cujo espírito de generosidade falou mais alto do que a falta de tempo provocada pelos bilhões de projetos em que sempre se encontra envolvido. Que privilégio, ter um texto escrito por estas quatro pessoas tão talentosas! E agora, publica-se? Não, não foi esse o combinado. Vamos lá, senhor diretor, meta as suas mãos na massa e avance para a etapa seguinte.

A história nasceu sem nome e foi-se revelando assim, órfã de um batismo. Até que chegamos a uma palavra nova, criada para o efeito. Quotidiamo.  O título do espetáculo, que é um jogo entre as palavras quotidiano e amor, dá um vislumbre do retrato desenhado pelos quatro autores do texto: a relação de um casal que é vítima dos problemas do dia-a-dia, desde a crise financeira à própria rotina de uma vida a dois. Não podia ser mais universal.

Para dar corpo, voz e alma às palavras seria indispensável uma dupla de atores mais do que competente. Duas pessoas que não tivessem medo de arriscar, de se jogar, e com uma capacidade técnica acima da média. Quis o destino que este pequeno elenco também fosse multinacional. Janaina Alves, brasileira, a viver no Mindelo há cerca de três anos e Renato Lopes, um dos atores cabo-verdianos mais talentosos da nova geração, aceitaram o repto e com dedicação, talento e suor, dão o corpo ao manifesto cénico que nos chegou em mãos.

De Portugal, vieram mais duas colaborações artísticas: o músico e compositor Rui Rebelo compôs uma belíssima banda sonora – algo raríssimo em Cabo Verde, apesar de sermos conhecidos como um país musical – e Paulo Cunha, desenha a arquitetura luminosa do espaço e das cenas, sendo ainda responsável pela projeção do vídeo que, em tempo real, está sendo filmado pelas personagens e emitido no fundo, acrescentando ao caráter já de si trimendisional (TD) da arte cénica, uma possibilidade de visão em alta definição (HD), das expressões e do respirar das personagens nalgumas passagens da história. 

Para compor o bolo criativo, estou eu, que neste momento não tenho mais assunto a não ser este. Um encenador / diretor cabo-verdiano, filho de pais portugueses, nascido na França, pai de duas filhas crioulas e casado com uma brasileira do Piauí. É como se esta produção tentasse ser, de alguma forma, uma síntese de mim mesmo enquanto agente teatral, um culminar de um amadurecimento artístico, de influências díspares e cruzamentos de três continentes, com epicentro numa bissetriz chamada cidade do Mindelo. 

Numa altura em que por razões académicas me encontro mergulhado numa profunda reflexão sobre identidade cênica, mormente do teatro que se faz em Cabo Verde, corolário de um percurso de mais de vinte anos de trabalho e meia centena de produções encenadas, Quotidiamo não deixa de ser uma obra paradoxal. Mas continuo convencido de que somos do lugar de onde somos felizes. Que o nosso umbigo, enterrado algures, e o nosso DNA, herança dos nossos antepassados, se manifestam de uma ou outra forma conforme o contexto social, cultural, geográfico, antropológico do lugar onde nos encontramos. O que sempre chamei de “a energia do lugar”, é isso que nos vai moldando.

É por isso que não tenho qualquer dúvida em afirmar que Quotidiamo é uma obra de teatro cabo-verdiano, puro e duro, apesar da diversidade na origem das diversas colaborações artísticas que lhe deram corpo. Porque nasce aqui. Neste chão. Imana com esta poeira oriunda do deserto do Saara. Com a maresia deste mar azul que nos rodeia por todos os lados. Com a musicalidade deste povo que ecoa a cada esquina. Porque a universalidade do tema nos toca também, embora seja quase sempre difícil admiti-lo, assim, fora do recato onde se escondem a sujeira e as frustrações do nosso dia-a-dia. Quotidamo veio do mundo mas nasce em nós.

E para o mundo há-de voltar.  (Quem sabe, um dia destes, em S. Paulo)


Homem que é Homem

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Orgulho de fazer parte desta campanha.


Homem que é Homem II

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Face à Primeira Edição do "Mudjer Forsa di Mundu, Mulher Força do Mundo", realizado no Átrio do Praia Shopping, o ano passado, este ano, a Artemedia Produções e a Associação de Mulheres Empresárias de Santiago resolveram ir mais longe... 

Inspirando-se na campanha levada a cabo pelo Banco Mundial do Brasil, em 2013, ma também tendo em conta a campanha desenvolvida pelo ICIEG e o Laço Branco, em 2009,  este ano para as Comemorações do Mês da Mulher, foi criada a campanha “HOMEM QUE É HOMEM NÃO BATE EM MULHER”, que pretende alertar e chamar atenção para a Violência Baseada no Gênero. 

A violência que atinge milhares de mulheres em todo o mundo, decorrente da desigualdade nas relações de poder entre homens e mulheres, continua a ter uma presença forte nas sociedades muitas vezes silenciosa mas tambem muitos vezes mortifera.E em Cabo Verde esta é uma dura realidade. Por exemplo, segundo os ultimos dados há uma incidência da violência contra mulheres jovens, com idades compreendidas entre 20-39 anos.

E Neste sentido, há que se continuar a agir!

Doze personalidades masculinas, conhecidas do público cabo-verdiano, (Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Presidente da Assembleia Nacional, Presidente da Câmara Municipal da Praia, Líder Parlamentar do MPD, o músico Batchart, o apresentador Éder Xavier, o escritor David Hopffer Almada, o encenador João Branco, os atletas Tigana e Bruno Moniz,  o Presidente do Conselho de Administração da RTC e o Presidente do Laço Branco) dão a cara por esta campanha, através da sua participação nos dois spots de TV e Rádio TV (que serão emitidos em duas versões: Português e Crioulo), mas também nos cartazes e outdoor cuja mensagem é só uma “Homem que é Homem Não Bate em Mulher”. 

Esta campanha pretende chegar a todas as ilhas... não só através da televisão, da rádio e da imprensa... mas de uma forma contínua, aproveitando a importância das redes sociais e do poder da Internet. Desta forma criou-se um Blog, em parceria com o Sapo CV, que funcionará durante o ano de 2014. Através deste meio, e em parceria com o ICIEG, irá se colocar fotos de vários homens, das diversas ilhas, com a mensagem que dá mote à campanha. Mas também, durante este ano, o Blog “Homem que é Homem Não Bate em Mulher” irá disponibilizar testemunhos de mulheres que já sofreram de Violência, mas que conseguiram superar, irá se lançar reportagens e videos relacionados com esta temática. O intuito é que este blog funcione não somente durante o Mês de Março, mas que durante 2014 possamos dar a conhecer as actividades, das Instituições ligadas às questões de gênero, informar e alertar para esta grande problemática, que em diversas ilhas ainda é muito silenciosa mas por vezes mortífera. 

É de realçar, que o Primeiro-Ministro, Dr. José Maria Neves, é o padrinho desta campanha e a Sra. Ministra da Saúde, a Sra. Ministra da Juventude, a Sra. Embaixadora dos E.U.A e a Coordenadora das Nações Unidas são as madrinhas. 

A culminar as comemorações do Mês da Mulher, no dia 27 de Março, Dia Nacional da Mulher Cabo-Verdiana, realiza-se o espectáculo “II Edição Mulher Força do Mundo – Mudjer Forsa di Mundu”, no Atrio do Praia Shopping, contando com a actuação de vários artistas e com a nossa diva Lura, que também é um dos rostos desta campanha.

O blogue Café Margoso orgulha-se de se associar a esta campanha.



Dôs com Celina Pereira

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Dôs com Celina Pereira


Conversa com Celina Pereira, certamente uma das figuras mais emblemáticas do espectro cultural cabo-verdiano. Com uma longa carreira de décadas, não deixa de ser uma mulher cheia de planos e projectos em curso e não se inibe de dar um recado onde demonstra alguma mágoa por não ser mais considerada na sua terra natal.  E explica porque é que, orgulhosamente, gosta de mostrar o seu lado africano.


Chegada a este momento dentro de uma tão longa carreira, tão cheia de obra, o que te falta fazer. O que é que gostavas de fazer e que ainda não fizeste?

Celina Pereira:  Falta-me fazer tudo Porque acredito que qualquer criador ou artista, se tem consciência do papel que tem, nunca está contente com o que faz. Depois sou uma pessoa extremamente exigente comigo, acho sempre que pode ser mais e melhor. Mas por vezes, dou por mim a fazer-me festinhas porque (em consciência) também já fiz algumas coisas boas durante estes anos...

Como é que gostavas de ser lembrada?

Como uma cabo-verdiana, cidadã do mundo, que quis sempre honrar o nome e a cultura do seu pais e dos seus ancestrais, sobretudo da minha família, de que --- tenho muito orgulho. Do meu pai e da minha mãe que me criaram tão bem e--- me deram esta noção de responsabilidade, de lugares de intervenção onde sempre deveremos estar. 

AS ORGENS

Nasceste em que ilha?

Na Boavista, onde morei até aos seis anos e tal.  Depois mudei-me para S. Vicente com os meus pais. Costumo dizer que sou de duas ilhas, em termos de proveniência: da Boavista, onde nasci, e de S. Vicente, onde vivi parte da minha infância e adolescência, fiz o liceu, tive o primeiro namorado, essas coisas todas. 

Como é que foram os teus primeiros anos aqui em Portugal, numa época muito complicada? 

Sim, não foi fácil. Fui para Viseu, nos anos 60. Um choque térmico, chorava todas as noites. Mas foi muito bom em termos de abrir outros horizontes, conhecer novas gentes, uma culinária diferente  daquela a que estava habituada.. Quando vim para Portugal pela segunda vez em 1970, a minha ambientação foi mais pacifica, pois acabei ficando em casa de familiares.

Gostas que as pessoas te vejam como cantora, como contadora de estórias, como intérprete, como actriz? Com qual destas facetas de intervenção artística te sentes mais identificada? 

Eu acho que qualquer dessas áreas é minha. Sou, acima de tudo, uma comunicadora que utiliza essas diferentes estradas para chegar ao público. Quando estava num balcão da TAP a falar com o público não era muito diferente, era comunicar com as pessoas. Quando estou numa escola a contar uma estória às crianças, estou a comunicar do mesmo modo. Considero-me acima de tudo uma comunicadora, que utiliza a música, a palavra, a poesia, a representação, o que quiseres. A gente tem dons que precisa de explorar e melhorar e eu tenho procurado fazer isso, com formações contínuas, para me aperfeiçoar neste caminho da comunicação. É evidente que de tudo isto, o que eu mais gosto de fazer é de cantar.  

Mas curiosamente, gravas muito pouco...

Sim, porque as coisas são complicadas. Se eu tivesse nascido de uma família rica, quem sabe se poderia ter uma discografia mais vasta. 

FRUSTRAÇÃO POR GRAVAR POUCO

Gostarias de ter tido a oportunidade para gravar mais vezes e com mais frequência?

Sem dúvida. E é curioso que aos discos dos meus áudio-livros, as pessoas não se referem como trabalhos discográficos, que também são. Referem-se ao livro e não pensam no CD. 

Onde tu não dizes apenas, cantas também, dentro do que é habitual na tua forma de contar histórias, já que tu as contas cantando, ou cantas contando estórias, como quiseres...

É isso mesmo. E se os genes têm memoria, são os meus genes africanos que trazem essa característica. África, onde há muitos contadores de estórias que contam cantando e cantam contando. Eu considero que esta minha forma de contar estórias é uma herança que trago de África.

Aproveito esta deixa para lançar uma pequena provocação: há muitos cabo-verdianos, principalmente nas ilhas no Norte, que não têm uma tendência muito vincada, para reivindicar o seu lado africano. Ainda hoje continuamos a discutir este assunto, a polemizar sobre esta questão da maior ou menor africanidade do povo cabo-verdiano. Tu, claramente, sempre fizeste questão de vincar esse teu lado africano. Como é que vês esta polémica?

Considero que é uma discussão completamente estéril. Em termos históricos e sociológicos --- não posso nem devo esquecer-me que os portugueses trouxeram escravos do continente africano e que Santiago foi um enterposto de escravos durante quase cinco séculos.   Venho de uma cultura tão misturada, onde o lado africano foi sempre tão posto para trás, pois no tempo colonial os batuques, o kola san jon, as tabancas, eram proibidas porque eram consideradas expressões menores.  Em consciência, talvez eu esteja, inconscientemente, a provocar os meus patrícios, porque é mais do que óbvio que temos genes dos dois lados e não podemos menosprezar nenhum dos dois. 

Não te parece também que muitos artistas que trabalham fora de Cabo Verde acabam por entender que é vincando o seu lado africano que conseguem se afirmar melhor neste terreno chamado mercado, marcando pela diferença a sua presença nesse mesmo mercado? 

Devo dizer-te que quando cantei pela libertação de Nelson Mandela, no final dos anos oitenta, em Roma , usava roupas africanas. Na capa do meu primeiro EP, a foto também me mostrava com uma indumentária desse tipo. Quando Mandela veio a Portugal depois da sua libertação, --- fui convidada a cantar na Aula Magna e levei um belo fato ocidental. Houve uma amiga --- cantora que me disse isto: olha, adorei a tua actuação, mas faltou-me ver-te  com aquela roupa que costumavas usar.

Que hoje é tua imagem de marca.

Pois é, hoje eu não a dispenso. Faz parte da minha identidade enquanto artista. É o meu selo

Depois de 40 anos fora de Cabo Verde, sentes que o teu trabalho é valorizado no teu pais?

Seria cínica se respondesse que sim. Acho que não tem sido. Vou ser muito directa: ninguém faz obra a pensar em prémios, mas quando comecei com esta “mania” de contar estórias e gravei o meu primeiro trabalho sobre contos tradicionais, logo de seguida recebi um prémio internacional na Itália. E mais se seguiram. A verdade é que teve pouca ou nenhuma repercussão em Cabo Verde. Passaram-se muitos anos sem que o pais desse nenhuma importância ao que eu andava a fazer. E considero que é um trabalho válido e importante: de preservação da memória, um trabalho para a educação, para as referências identitárias. Em 2004, o Presidente Jorge Sampaio deu-me uma medalha de mérito e uma comenda. Cabo Verde fê-lo muito mais tarde. O meu país não me tem dado a atenção que eu gostaria de ter tido. Tive uma bela experiencia em S. Vicente com um périplo pelas escolas convidada pela Isaura Gomes, e sinceramente adorava fazer isso em Santiago, no Maio, na Boavista, no Fogo, por todo o meu Cabo Verde. O país tem tido esta fragilidade: só há bilhetes de avião para alguns artistas. E são pouquinhos. Não me perguntes porquê que eu não tenho resposta para isso. 


Nota: resolvi publicar esta entrevista, realizada por mim há um par de anos, porque a minha grande amiga Celina Pereira foi, no passado fim de semana, distinguida com o Prémio Carreira, pela CVMW. Fiquei muito feliz e considero o prémio de uma justiça absoluta. Abraço crioulo, como ela costuma dizer!


Entrevista publicada no jornal A Nação
Fotografia de Joaquim Saial

Declaração Cafeana

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O objectivo de uma campanha publicitária é chamar atenção para o produto que se quer vender. No caso de uma campanha com objectivos solidários e/ou sociais, é chamar atenção para uma qualquer problemática social e lançar o debate sobre ela, quebrando tabus, colocando meio mundo a falar sobre o tema. Se essa campanha tiver um bom slogan, daqueles que fica no ouvido, melhor ainda. A frase, começa a ser repetida até à exaustão e, o que é mais fantástico, o efeito multiplicador permite-nos observar a utilização dessa mesma frase em dezenas de contextos diferentes. Ou brincando, ou ironizando, ou criticando. Mas se esse slogan estiver na boca do povo, a campanha já é uma campanha vencedora. 

Vem isto a propósito do burburinho à volta da campanha "Homem que é homem não bate em mulher", à qual tive todo o prazer de me associar, dando a cara, e fazendo do Café Margoso um parceiro. Muitas participações, algumas críticas construtivas, observações pertinentes, debate lançado, a campanha na boca do povo. Por aí, a campanha já vence e os promotores estão de parabéns.

Depois há que se entender em que sociedade vivemos. Basta ir aos jornais online para verificar a podridão que grassa pelas mentes de tanta gente que, sempre sob a capa cobarde do anonimato, insulta, acusa sem fundamento, utilizando na maioria das vezes linguagem rasteira, cuja única sensação que consegue provocar é uma sensação de nojo e vómito. Há muito deixei de ler esses comentários, mas não deixam de ser um retrato social, mesmo que escondido, da lixeira mental que se sente, mas não se quer admitir que exista. 

Como não podia deixar de ser, uma campanha como acabou provocando algumas reacções que, no meu entender, são despropositadas mas absolutamente expectáveis: estar a gerir egos, porque fulano ficou na frente de sicrano; que o partido amarelo está mais representado que o verde (ou vice-versa); que o logo mostra o homem em cima e a mulher em baixo e que portanto contribuí para o acirrar do preconceito; que esse ou aquele não pode estar porque "todo o mundo sabe" que dá pancada nas mulheres (e isto dito sem provas, sem acusação, sem julgamento e muito menos, sem condenação), esse tal diz que não diz que é um dos maiores venenos sociais do nosso meio, tudo isso não podia deixar de acontecer, mais ainda numa campanha em que o assunto é tão sensível numa sociedade tão hipócrita como a nossa. 

Estão os promotores sujeitos a críticas? Com certeza! Coloco a foto que mostra a participação do Tchalé Figueira, que de forma construtiva participa e critica ao mesmo tempo, sugerindo algo mais, dando exemplos de outras frases ou outros slogans. Outros o tem feito, lançando e promovendo um debate necessário e profícuo. Agora, podíamos estar a falar de violência doméstica sem o lançamento desta campanha? 

Podíamos, mas não era a mesma coisa!

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